AS-PTA/Brasil – Mais de mil jovens estiveram presentes na “I Marcha da Juventude do Polo da Borborema – na luta pela agroecologia” realizada na cidade de Remígio, no Agreste da Paraíba, em 28 de julho de 2016. Os jovens vieram dos 14 municípios da região da Borborema onde o Polo da Borborema, uma rede de 14 sindicatos rurais, atua pelo fortalecimento da agricultura familiar de base agroecológica, com a assessoria da AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia.
A concentração teve início às 8h em um palco montado no centro da cidade, onde houve a animação promovida pelas lideranças e o som da banda “Juventude Camponesa”, de Remígio, para a acolhida às caravanas. Além dos jovens dos municípios do Polo, estiveram presentes ainda representantes da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA Brasil) e da Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba), estudantes dos cursos de ciências agrárias da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Campus Bananeiras e Areia, do Núcleo de Extensão Rural em Agroecologia da Universidade Estadual da Paraíba, Núcleo de Estudos em Agroecologia do Instituto de Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) Campus Picuí, do GT de Juventude do Coletivo das Organizações da Agricultura Familiar e da Secretaria de Juventude da Central única dos Trabalhadores da Paraíba (CUT-PB).
Jéssica Naiara Sobrinho, de 19 anos, veio do Sítio Escurinho, município de Juazeirinho, no Cariri Paraibano, ela integra o GT de Juventude do Coletivo e o Fundo Rotativo de Jovens da sua comunidade. A jovem gostou muito da marcha e que vê muitas semelhanças entre a realidade dos jovens da sua região e a dos jovens que conheceu na marcha: “Pra mim o desafio comum a todos é a seca. Eu acho muito importante um momento como esse, onde a gente se conhece, troca conhecimento e sai fortalecido”, avaliou.
Na abertura oficial da Marcha, Roselita Vitor, liderança do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remígio e da Coordenação do Polo da Borborema lembrou que o trabalho que está crescendo com a juventude camponesa tem muitas semelhanças com o que vem sendo feito com as mulheres na luta por igualdade de gênero e como ambos são importantes para a construção do projeto político do Polo, que agora completa 20 anos: “Do mesmo jeito que as mulheres eram excluídas do projeto de sindicalismo, também era a juventude. Por isso estamos aqui construindo um movimento sindical justo. Justo para as mulheres, para os jovens e para todos. E essa marcha acontece em um momento especial, que é o aniversário de 20 anos do Polo, que a gente possa comemorar essa data com a juventude fortalecida”, disse.
Os jovens Marilene Isidoro Porto, de 22 anos, do Sítio Mucuim, Areial-PB e Mateus Manassés, de 20 anos, do Sítio Soares, em Queimadas-PB deram o seu depoimento, compartilhando a sua história de vida na agricultura. “Comecei na agricultura aos quatro anos de idade, já criava galinhas, não sou diferente de muitos de vocês, sou um jovem do campo e posso estar diante da pessoa mais importante do mundo que não vou ter vergonha de dizer que sou agricultor. Posso até ainda ter outra profissão na vida, mas abandonar a agricultura, jamais. Para mim não tem nada que impeça de você ser agricultor e de também estudar. Não é para a gente abandonar os estudos por causa da agricultura e nem deixar a agricultura para poder estudar, dá pra conciliar as duas coisas, eu estudo à tarde e cuido das minhas coisas pela manhã. Acho a agricultura uma das profissões mais importantes, quem que está aqui hoje que não já se alimentou? A gente já começa o dia precisando do agricultor”, disse Mateus em sua fala.
Por volta das 10h da manhã, a marcha saiu e tomou as ruas centrais da cidade, com o auxílio de um minitrio, os representantes da Comissão de Jovens do Polo gritaram palavras de ordem, distribuíram panfletos, cantaram músicas de protesto e que dizem sobre a sua realidade, dialogando com a população sobre a necessidade de tirar da invisibilidade o trabalho da juventude e de encarar os desafios para que esta juventude siga no campo, dando continuidade à agricultura familiar e defendendo a agroecologia enquanto modo de vida e modelo de produção de alimentos.
De acordo com os jovens do Polo, entre as bandeiras de luta elencadas durante os encontros de formação e o processo de preparação para a marcha estão: a necessidade de uma educação que considere a realidade do campo, políticas públicas de apoio à juventude rural, a exemplo das de crédito e de acesso à terra e o enfrentamento às várias formas de violência no campo, incluindo o machismo, a homofobia e a violência simbólica que é preconceito contra o jovem rural.
Durante o seu trajeto, a marcha fez duas paradas, nas escolas estaduais Dr. Cunha Lima e José Bronzeado Sobrinho, onde recitaram um poema e um cordel que tratam sobre temas como a educação contextualizada no campo e a valorização da juventude camponesa.
Retornando ao Centro da cidade, na rua onde tradicionalmente acontece a feira agroecológica do município, foi montado um segundo palco e a II Feira Agroecológica e Cultural da Juventude Camponesa, onde em 16 barracas, os jovens puderam comercializar e expor os seus produtos e experiências. Jéssica Rakel Pereira dos Santos, de 23 anos, do assentamento Queimadas, Remígio, foi uma delas. Ela trouxe para vender mudas de plantas, alface, coentro, beterraba, bolo de batata doce, beiju, tapioca e fava dos tipos cara larga e eucalipto. Produtos produzidos por ela, que já é feirante na feira do município, que por sua vez integra uma rede de 12 feiras agroecológicas da Ecoborborema, associação de feirantes do Polo. “A gente já recebeu aqui em Remígio a primeira marcha das mulheres em 2009 e agora recebemos a primeira marcha da juventude, é um orgulho pra nós fazer parte desse trabalho, que está fortalecendo muito a juventude do meu município”, disse se referindo a “Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia” que o Polo realiza há sete anos na região.
Na feira houve espaço para uma série de apresentações culturais: a Associação de Capoeira Expressão Cultural (ACEC) e o Grupo ABC do Forró, ambos de Remígio, este último com crianças de comunidades da zona urbana e de assentamentos do município, o grupo Brasas Vivas, formado por jovens do Distrito de Santa Teresinha, em Campina Grande, divisa com a cidade de Massaranduba-PB, de onde veio ainda o grupo de ciranda “Os Vicenças”.
O encerramento da marcha ocorreu por volta do meio dia com uma mística que trouxe uma reflexão sobre a conjuntura atual de crise política e ataques à democracia que resultou no impeachment da presidente Dilma Rousseff, contra quem não pesam acusações de crimes, e na ascensão de um governo interino ilegítimo que está promovendo a retirada de uma série de direitos historicamente conquistados. Na encenação, os jovens apareceram segurando placas com os nomes das principais políticas públicas conquistadas nos últimos anos, frutos de uma luta histórica dos movimentos sociais a exemplo dos programas de cisternas (P1MC e P1+2), o SUS público, universal e gratuito, os Programas Sociais, Bolsa Famílias, Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos, Caminhos da Escola e ProUni, o salário maternidade e a aposentadoria rural entre outros, que se encontram atualmente ameaçados pelo corte drástico de recursos ou extinção e ameaças de privatização. Um a um os jovens que seguram as placas são derrubados pela figura de um ceifador representado pelo governante interino e golpista Michel Temer (PMDB). Aos gritos de “Fora Temer!”, “Nenhum Direito a Menos”, “Juventude que ousa lutar, constrói o poder popular!” e “Juventude e Agroecologia: a luta é todo dia!” e em clima de muita animação e disposição para seguir animando este processo em cada município, os jovens encerraram oficialmente a marcha. “Essa marcha foi pra mostrar que isso de dizer que o jovem não quer nada é uma mentira, estamos aqui na luta pelos nossos direitos e para que as nossas conquistas não sejam ameaçadas. Aqui hoje foi só um primeiro passo, ainda temos muito pela frente e da próxima vez eu espero que tenha muito mais gente reunida e organizada, que a gente siga com esse trabalho”, finalizou a jovem Sidinéia Camilo, do Sítio Caiana, em Remígio.