Em encontro na capital do Brasil, entidades de diversos países discutiram soluções para o fortalecimento da forma desse tipo de produção.
Por Aline Adolphs
O Seminário Aliança pela Agroecologia, realizado entre 3 a 6 de maio de 2017, em Brasília, reuniu cerca de 70 pessoas dos mais diversos países latino-americanos, além de representantes da União Europeia, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO, do BNDES, da Fundação Banco do Brasil e do Governo Federal. De acordo com o coordenador do Projeto Aliança, Gabriel Fernandes, da AS-PTA, o intercâmbio foi fundamental para orientar as políticas públicas voltadas à agroecologia. “O seminário marcou o encerramento do projeto, mas, ao mesmo tempo, a inauguração de um novo processo de articulação de organizações que promovem a agroecologia na América Latina. A base dessa articulação são as experiências concretas que essas entidades desenvolvem nos seus países, cujos resultados e impactos foram apresentados nesses três dias.”
Os estudos de caso apresentados por sete países – Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guatemala, Nicarágua e Paraguai – estão disponíveis no site do projeto Aliança pela Agroecologia. As ações promovidas pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia, entidade organizadora do seminário, no Agreste da Borborema, na Paraíba, é um destes estudos. O local se transformou em um Polo de iniciativas agroecológicas com banco de sementes próprio, acesso à água para produção, 145 grupos comunitários gerindo fundos solidários e um movimento de mulheres bastante representativo.
Todos os resultados dos estudos de caso realizados pelas entidades que compõem a Aliança – AS-PTA, Actionaid Brasil, Cipca (Bolívia), Imca e Recab (Colômbia), CEA (Equador), Fundebase (Guatemala), Rede Rural (Paraguai), Simas e Unag/PCaC (Nicarágua) – estão reunidos, também, na edição especial da revista Agriculturas de Setembro de 2016. As entidades concluíram que as experiências agroecológicas contribuem para pelo menos dez dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
Avanços e desafios
A intensa programação do Seminário contou com diversas mesas sobre as experiências dos países, os diálogos de saberes e com um momento de reflexão e discussão sobre os avanços e desafios para a promoção da agroecologia na América Latina. O debate destacou três aspectos: sociais, ambientais e econômicos.
Entre os sociais, o grupo reconheceu que o interesse público e da academia pelo tema vem crescendo, além disso, a agroecologia está fortalecendo a luta pelos direitos das mulheres e resgatando produções que estavam praticamente abandonadas, o que é importante para a segurança alimentar. Os desafios sociais são, entre outras coisas, a disseminação dessa forma de produção, o combate à cultura machista e patriarcal, a melhoria dos sistemas de informações e a discussão sobre a concentração de terra em poucas mãos.
A respeito dos aspectos ambientais, foram apontados como avanços a manutenção das práticas ecológicas pelos camponeses, soluções técnicas para o manejo da água e a mudança em alguns países da matriz energética para fontes de energia sustentáveis. Entre os desafios, está a promoção da Aliança junto aos movimentos sociais para uma luta global e a descontaminação da água e do solo.
Com relação aos aspectos culturais, as propostas foram repensar o papel da educação, voltada majoritariamente à produtividade; estabelecer um melhor diálogo com os jovens e buscar apoio das universidades que, de um modo geral, estão muito distantes da realidade da agroecologia, segundo os participantes do seminário.
Embora o projeto da Aliança, cofinanciado pela União Europeia, esteja se encerrando, como destaca Gabriel Fernandes, assessor técnico da AS-PTA e coordenador do projeto, as organizações já manifestaram interesse em permanecer em contato e com novos projetos, promovendo a troca de experiências entre países. Um novo encontro do grupo deve ocorrer durante o Congresso Latino-Americano de Agroecologia, que ocorrerá em setembro, na capital federal.
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FOTOS: Ubirajara Machado