Por Aline Adolphs
No último sábado, 6 de maio de 2017, cerca de 30 participantes do Seminário Latino-americano da Aliança pela Agroecologia, que ocorreu em Brasília, visitaram duas experiências agroecológicas no Distrito Federal. A primeira foi um dos pontos de venda da Associação de Agricultura Ecológica (AGE); e a segunda, o assentamento da reforma agrária Pequeno William, em Planaltina.
A AGE foi criada em 1988 e legalizada em 1989. Possui, atualmente, três pontos de venda que comercializam itens de oito produtores do Distrito Federal. A feira visitada por representantes de diversos países da América Latina funciona todos os sábados na quadra 315 Norte da capital federal.
Recebida pela coordenadora da feira, Isabel Fontes, a delegação demonstrou interesse na forma como os associados organizam o transporte e a precificação dos produtos, bem como a forma como destinam os produtos que não são comercializados, entre outras informações. Durante a visita, o grupo encontrou a ex-ministra de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, que é cliente assídua da AGE. “É muito importante ter vocês aqui, neste momento difícil que o Brasil está passando, para contribuir com o debate”, disse a ex-ministra ao grupo, em referência às mudanças na direção política do País.
Agroflorestas
No assentamento Pequeno William (o nome é uma homenagem a um menino que morreu envenenado por agrotóxicos), os participantes do projeto Aliança pela Agroecologia conheceram florestas agroecológicas que estão sendo implantadas pelos assentados. Segundo Acácio Machado, assentado que recebeu o grupo, a área, próxima à pedra fundamental do DF, em Planaltina, estava muito degradada quando, há cerca de cinco anos, após oito anos de acampamento e reivindicação, foi concedida ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra.
Hoje, 22 famílias vivem no local, em propriedades de 5,5 hectares. Formado em Agroecologia, Acácio revelou que os assentados sentem falta de apoio técnico. Os agricultores encontram dificuldade, por exemplo, em fazer o manejo do Cerrado e em reservar água suficiente para manter a plantação de hortaliças.
O momento foi de troca de experiências entre os assentados e a delegação latino-americana, que passou dicas a respeito das melhores práticas para conservação dos produtos agroecológicos, como a utilização de certos tipos de pós de rochas para recuperação do solo e as plantas mais indicadas para conviver lado a lado.
Acácio também falou sobre as dificuldades para obtenção da titularidade da terra, uma vez que a concessão de uso tem que ser renovada a cada cinco anos. “A gente quer um título vitalício, que vale como herança. Não pode ser vendido, passa de pai para filho”, afirmou. “O momento é muito complicado para o movimento. O título definitivo, como quer empurrar o atual governo, permitirá que a terra seja vendida para qualquer um e acaba com a ideia de assentamento e com a responsabilidade do Estado, porque o agricultor assentado vai precisar recorrer a financiamentos com juros altos e colocar a propriedade como garantia”, esclareceu.
A visita foi encerrada com um farto almoço preparado em fogão a lenha, onde os visitantes da América Latina puderam conhecer um pouco da cozinha brasileira, com galinha caipira, arroz, feijão tropeiro, legumes e saladas orgânicos produzidos no assentamento.
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